sexta-feira, 16 de março de 2007

Sofrer

As pessoas adoram sofrer.
Adoram mesmo, de paixão.
Sofrer para as pessoas é mais importante do que o ato de viver em si.
Veja bem por aí: quanto mais ferrada, mais estropiada, mais enganada, mais a pessoa aprecia o sofrimento e quando acompanhada de seus pares, mais valor ela tem.
Porque sofre. Pode uma coisa dessas?
Deveriam vender ações de sofrimento na bolsa de valores. Essas sempre estariam bem-valorizadas.
Te faço um desafio: experimente tratar uma pessoa que sofre um pouco melhor. Lhe dê carinho, atenção, faça-a se sentir um pouco melhor da vida míseravel que ele(a) leva.
Perceba sua reação: lágrimas, falas do tipo "Não mereço", "Não se preocupe" ou simples negação, normalmente com uma desculpa pífia e sem sentido.
As pessoas gostam de sofrem.
Mas...aí me ocorre: se gostam tanto de sofrer, onde esse pessoal desconta suas mágoas para evitar que fiquem todos loucos?
Televisão.
Ligue na novela. Os folhetins são carregados de elementos similares à realidade: intriga, tramóias, lutas pelo poder, coisas que não tornam o ser humano melhor, mas o nivelam a animais se matando.
Assim como é a vida da sofredora que assiste.
Mas qual o diferencial? Ora, no fim, os bandidos se ferram, morrem, ficam loucos, vão pra cadeia.
Pela força do roteiro, os maus recebem uma punição. Porque é isso que se quer ver quando se assiste uma novela: vitória do bem contra o mal.
Porque a realidade é cruelmente diferente, e todo mundo merece um refresco, certo?
Com homem não é muito diferente. Dê um jogo de futebol e está tudo acertado. O sofrimento é aplacado pelo prazer de ver o time vitorioso em um jogo ou mesmo num campeonato inteiro e pelo ainda maior prazer de tirar uma da cara do torcedor do outro time.
Prazer pra uns, sofrimento para outros.
É a distribuição igualitária de sofrimento para todos.
O que é absurdo se formos pegar pela lado racional da coisa: os estádios estão em petição de miséria, os times, muitos são controlados por máfias, quando não por agentes estrangeiros de caráter dúbio ( sim, falo da MSI Russa e do Timão, aka, Corinthias. ), nossos novos talentos, por falta de infra-estrutura dentro do próprio país, vão para o estrangeiro, ganhar melhor, jogar em estádios melhores, e ( porque não?) jogar um futebol melhor.
Enquanto a busca pelo prazer ficar acima de tudo, e que o sofrimento for cultivado como "moeda de troca" entre as pessoas, penso eu que dificilmente veremos melhora na condição geral do Brasil.
Pelo menos no que concerne à parte sudeste do mapa, ainda não pensamos como nação.
Pensamos, mal e porcamente, em nós mesmos.
É isso.

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