terça-feira, 24 de maio de 2016

Crítica - Salvation!



Eu poderia chamar esse texto de "a linda ignorância de fanzineiro".
Vcs devem estar lembrados de que fiz um post a uns tempos atrás falando dos lançamentos da editora HQM, isso me referindo claro, aos quadrinhos nacionais.
Naquele belo ano, tivemos o lançamento de "Vidas imperfeitas", de Mari Cagnin, novos volumes de "Vitral" e o "Príncipe do Best-seller", do Futago Studio e um novato, o "Salvation", de André Araujyo.
É interessante lembrar que naquela época, OPBS se encaminhava pra sua finalização, Vitral estava chegando na metade (6 volumes de 12) e Vidas seria concluído rapidamente, por se tratar de 3 volumes.
Salvation é um gibi comercial, mas feito "a moda antiga", como os antigos almanaques de mangá nacional que assolaram as bancas enquanto os mangás japoneses não se firmavam.
A edição da HQM consistia de uma edição com pouco mais de 60 páginas e claro, história seriada.
Me encontrei com o autor em SP, conversamos sobre o gibi, perguntei coisas (sempre pergunto, né?) e sinceramente, esperava que o autor me ouvisse.
Não me ouviu. Daí cá estou eu escrevendo esse texto tardio para falar o óbvio: Salvation acabou.
Bem, não acabou realmente, com comunicado do autor, nem nada disso, mas para mim, Salvation está no mesmo barco que o horrendo fanzine "Insistência". Tecnicamente em publicação, mas edição nova que é bom...nada!
Vamos a crítica!

- História

O prelúdio da HQ mostra que num futuro talvez não tão distante, um grupo dominou o mundo e faz perseguição religiosa a todo mundo que não é da mesma religião que eles. Um rapaz ( que achei a cara do Kayra de Shurato, lembra desse anime? ) é morto por esse bandidos por ser cristão e a história volta no tempo, para o passado e é ali que a história realmente começa.
Conhecemos um padre, de nome Lukas. Senhor de idade, calvo, um bom padre. Junto a ele está o menino Enequeias, que usa um boné e vive de limpar a igreja onde Lukas faz missa.
Correndo em paralelo, temos o ateu-a-toda-prova Mateus. Que é professor universitário e bem famoso por sinal.
Acontece que Lukas e Mateus se conhecem e suas ideias sobre a existência ou não de Deus costumam dar ruim. Eles discutem. E em alguns dias eles vão se encontrar para mais um debate do tipo sendo televisionado.
É aí que começa a treta toda!
Nas trevas trevosas (??) um bando de bandidos planejam secretamente jogar as pessoas contra os cristãos do mundo todo. Como fazer isso? Matando o professor Mateus durante o debate ao vivo!
Só que o que a bandidagem não sabe é que Lukas, Enequeias e pasmem, mesmo Mateus, foram escolhidos por Deus para combater a ameaça!
...Que roteiro clichê né? Então, adiantando as coisas, os bandidos fracassam no intento de matar o professor Mateus, ele desperta o poder de Deus e por um momento os heróis tem alguma paz.
Sim, o Mateus deixa de ser ateu quando descobre que Deus existe.
Sim, o Lukas mesmo sendo velhinho e tudo mais, luta contra os bandidos, pois a Armadura de Deus funciona mais ou menos como a armadura do homem de ferro, mas bem maior.
E sim, o Enequeias luta também, mas rodando a vassoura pra bloquear ataque dos bandidos...
...
Cara, que bosta! xD Armadura pro velho vá lá, armadura e espada pro Mateus que é ex-ateu vá lá também...
Agora vassoura?  Zoado, zoado, zoado demais isso! x(
Mas o problema da história não é ela ser ruim, é uma outra coisa...

- O Problema

Problema é que a história parou. Sim, parou.
Salvation foi publicado online em inglês pelo antigo site de quadrinhos online "inkblazers" dos Estados Unidos. Quando foi publicada a primeira vez a história estava toda em inglês por sinal.
Quando foi lançada em 2014 pela HQM junto com outros mangás nacionais eu pensava que a webcomic teria um prosseguimento, uma continuidade. A história por si só pedia isso.
Mas não aconteceu.
Não é a primeira vez que tento acompanhar quadrinho nacional e o mesmo do nada, sem aviso algum, entra em hiato do nada, sem maiores explicações por parte do autor.
Eu falo "hiato", mas a real é que a história é abandonada, descontinuada mesmo, mas é aquele negócio né? Não existe o básico que seria a história ter um fim, uma previsão de fim pelo menos.
O autor, dentro de seu mundinho particular acha que consegue manter uma publicação regular, quando não é isso que ocorre. Viva a preguiça! Porque continuar história ruim, não é mesmo?
Eu comentei ali em cima que me encontrei com o autor e fiz perguntas a ele. A primeira pergunta que fiz foi justamente quantos volumes iriam durar a história.
E a resposta foi: "Quantos volumes o editor desejar."
Quer dizer, ele não tinha pensado num fim pra história. E eu, macaco velho nesses assuntos, sei que quando a pessoa não pensou em quantos volumes uma história teria, pode escrever: ela vai descontinuar a mesma.
E foi o que aconteceu. Esse Domingo que passou (22-05-2016) eu tava no Facebook como sempre e fui dar um pulo na página do mangá pra ver a quantas ia o negócio. 
Uma monte de postagem de conteúdo gospel, várias. Nada sobre o gibi. Pensei comigo: "Xii..." mas continuei procurando.
Acabei achando uma postagem velha, do ano passado (!!!) dando nota que a parte 4 da história estava online, em inglês, no site Tapastic Comics.
Vejam só, a edição impressa da HQM é de Abril de 2014 e contém os 3 primeiros capítulos.
O capítulo 4 lançado online está perto de fazer UM ANO online e sem atualizações.
Quer dizer, o autor desistiu da história, tá pouco se lixando o que fez ou deixou de fazer.
Ele NÃO QUER MAIS MEXER COM ISSO.
Azar de quem comprou o impresso.
Azar de quem tentou acompanhar a coisa online.
Azar pro autor, que achou que conseguia fazer quadrinhos e na real não consegue.
Ele pode dar a velha desculpa do "Ah, não tenho tempo", mas olhe outros exemplos de quadrinhos nacionais que temos aí, como o X-Dragoon, do Felipe Marcantonio, que chegou ao fim esses tempos. E ele casou, trabalhou, tem a vida dele normalmente e ainda fez e faz gibi online.
E nem precisa ir tão longe assim, o Futago Studio tá produzindo, tá criando histórias, estão na ativa.
E elas lançaram pela HQM também.
E tem Helena e Zucker do Studio Seasons, que sairam completinhos pela Newpop.
Quer dizer, o clássico "Não tenho tempo" deveria ser um "Não estou mais com saco pra isso."
Pelo menos seria mais sincero.
RIP Salvation, não sentiremos sua falta!

6 comentários:

Sky disse...

Quando leio "The Fool" postando comentários, já sei que tem informação interessante sobre mangás nacionais. Vez ou outra acabo me deparando contigo, seja em fóruns, yahoo respostas, etc. Muito obrigado por postar suas opiniões, acredito que seja importante para todos os aspiras brazucas a desenhistas se manterem atualizados.

The Fool disse...

Obrigado pelos elogios.
Mas eu queria mesmo era que o povo pesquisasse melhor as coisas e tentassem não repetir erros que outros já cometeram, mas... =(
Pessoal não quer estudar, entender as coisas, querem jogar um gibi de qualquer jeito e "ah, me amem eu faço mangá nacional!" não cara, não é assim.
Daí eu faço esses posts no blog e fico meio que "pregando no deserto", pra ninguém ouvir ou ler.
Um dia eles tomam jeito!

SKY disse...

Fabiano, citei você no meu jornal:

http://skywasa.deviantart.com/journal/

Se tiver alguma sugestão ou crítica, será bem-vinda. : )

The Fool disse...

@@ Meu Deus cara, não precisava...
Mas obrigado!

soni disse...

Oi Fabianao! Estava lendo seu blog e parei nesse cancelamento do Salvation. Fiquei intrigada com isso, porque não existe cancelamento oficial da obra. Acho que o autor desistiu mesmo. Não falei com ele, mas pode ter sido isso.
Acontecem coisas muito estranhas com o mercado de mangás nacionais. A lista de cancelamentos que vc fez é realmente assustadora. Mas ser cancelado é diferente de o autor desistir da obra por falta de resposta do público. Nós do Futago Estúdio produzimos sempre, e concordo com vc, a falta de tempo não é desculpa. Não cola mais. É falta de vontade e de ânimo. Que aliás, é uma coisa que acontece com todos que fazem mangá no Brasil. A gente vai desanimando, desanimando, até parar. Manter o ânimo e o foco é muito difícil. Pense só se vc publicasse seu mangá e tivesse que esperar dois anos para lançar o segundo volume ( o que aconteceu com a gente ), e ainda levasse anos para concluir. Isso tudo sem banca, sem propaganda e sem ganhar muito... Chega uma hora que vc pensa se está compensando trabalhar horas e horas e não ter o retorno. Essa falta de regularidade desanima o leitor também. Não é bem culpa do autor. Como podemos cobrar regularidade de nossos frágeis artistas num mercado quase inexistente? Só os fortes ficam nisso.^^

The Fool disse...

Oi Soni, legal tu comentando aqui! <3
Então... sobre os termos, concordo contigo, mas o que me mata é que a grande maioria dos autores não tiveram a ideia de continuar as histórias de outra maneira ou mesmo por outra mídia.
Simplesmente largaram, sumiram no mundo e tudo ficou por isso mesmo.
Tinha gente muito boa no meio, fosse nas editoras ou nos zines, mas parece que nem isso pesou na hora deles abandonarem as obras.
O caso do André eu curti lá a página dele no face e de vez em quando entrava lá pra ver a quantas iam as coisas.
Tinha tudo, menos sobre a HQ dele. Mas fui teimoso, continuei procurando e quando achei aquele link pro capítulo 5 em inglês, entendi que ele não tá com cabeça pra HQ.
Acho que ele nunca esteve na verdade.
Eu acho que quem está nisso de fazer mangá br tem que aprender a ter resiliência, não desistir das coisas. Continuar produzindo mesmo sem ter editora ou retorno do povo leitor.
Pra reverter esse cenário de desgosto a gente tem que fazer HQ, até o mercado começar a funcionar de verdade.
Não adianta só inventar de desenhar quando tem editora pra publicar. Que maturidade artística um cara vai ter por fazer um gibi por editora sendo que a vida dele é fazer fanzine quando acha melhor? Nenhuma. Ele vai se comportar como se estivesse fazendo fanzine.
Que foi o caso do André Araujyo, ele tratava o Salvation como um fanzine. Ele não parou pra pensar que o Carlos Costa deu um espaço pra ele, imprimiu, botou pra vender.
Não foi pra banca, mas isso não é desculpa.
O Carlos deu uma chance pra ele. Enquanto todo mundo tava fazendo suas coisas, ele ficou deitado em berço esplêndido achando que tava tudo ok.
Tá aí, ficou deitado pra sempre. Parabéns pra ele!